reviews GARUDA

 

Garuda is the name of a Hindu god, the king of the birds and a kite-like figure. «Garuda» is also the title of a new Portuguese trio featuring Rotterdam-based alto sax player Hugo Costa, known from the bands Albatre, Anticlan and Real Mensch, double bass player Hernâni Faustino, of the RED trio, Uivo Zebra and José Lencastre Nau Quartet, and drummer João Valinho, of Voltaic Trio who collaborates with Faustino in the No Nation Trio. «Garuda» documents the first-ever session of the trio at the Scratch Built studio in Lisbon in 2021. The album is released by the Indian label Subcontinental, apparently, the only Indian label that focuses on free and experimental music.

The music is free improvised but is informed by the legacy of spiritual free jazz. This is a democratic trio, and all three musicians are well-versed in the art of the moment. The trio establishes immediately tight dynamics and an organic flow of the music in the opening piece, 19-minute of the title piece, and Costa articulates an instant yet clear and coherent narrative to this powerful improvisation that alternates cleverly between fiery eruption and lyrical musings.

The trio employs another improvised strategy on «Camel Caravan». Faustino and Valinho build a massive rhythmic basis while Costa soars over their complex pulse. The brief «Jabbing» is a loose, sound-oriented experiment. The last 16-minute «A leap into space» revolves around a bass motif of Faustino, while Costa and Valinho patiently develop its melodic veins and intensify its tension, all with captivating lyrical beauty, and towards the ecstatic coda.

A promising meeting that calls for more and more live performances of the trio.  Eyal Hareuveni   

________________________________

 

Garuda é uma figura mitológica presente no budismo tantra tibetano, uma figura híbrida, meio homem e meio pássaro – ligação entre o céu e a terra –, que simboliza a união dos opostos. Na iconografia tibetana, Garuda é visto frequentemente atrás da cabeça de Buda, atuando como protetor e devorando o inimigo, a serpente (naga, em sânscrito), representando o estado desperto da mente. «O Garuda no Tibete é uma divindade que simboliza a confiança na equanimidade, na aceitação da impermanência», explica o saxofonista alto Hugo Costa à jazz.pt.

“Garuda” é também o nome do registo que documenta a primeira reunião deste trio de músicos: para além de Costa (que bem conhecemos de grupos como Albatre, Anticlan ou Real Mensch), o sempre muito ativo e multifacetado Hernâni Faustino no contrabaixo (RED trio, Wire Quartet de Rodrigo Amado, Nau Quartet de José Lencastre, No Nation Trio, Staub Quartet, de entre uma miríade de diferentes projetos) e João Valinho, baterista que também espraia o seu trabalho por diversas formações e múltiplos contextos. O trio começou a germinar a partir do momento em que Hugo Costa – a residir em Roterdão, Países Baixos – convidou os outros dois no verão de 2021, em Lisboa, para uma sessão de trabalho, ressaltando logo claro que dali brotavam interações fluidas e simbióticas. O que resultou desse frutígero encontro tem agora edição da Subcontinental Records, virtualmente a única editora independente indiana de música experimental.

A proposta do trio está solidamente ancorada na tradição do free jazz e da livre improvisação, sem premissas estabelecidas e com o trio aberto para explorar múltiplas abordagens. Tudo foi completamente improvisado, concebido em tempo real, numa lógica de comunicação e espontaneidade. É uma música dinâmica e com intensa propulsão, mas que também não descura uma componente mais melódica e contemplativa, que evolui em várias direções. Não há aqui hierarquias ou subordinações de qualquer teor, antes uma equidade nos papéis, todos essenciais para o cômputo sonoro. Da música emana uma certa espiritualidade, uma aura meditativa, profunda, mas felizmente a milhas de qualquer laivo zen.

A abrir, o tema-título, “Garuda”, a peça mais longa, quase uma vintena de minutos, deixa claro quais são os propósitos do grupo, em permanente e apertada interação, com Costa a explanar o seu saxofonismo flamejante (à memória vem amiúde o saudoso David S. Ware), lançando sementes com o seu fraseado. A peça vai assumido diferentes formas, aqui mais densas, ali mais respiradas, com momentos em duo, contrabaixo e saxofone e também com a bateria no final. “Camel Caravan” assenta num constante drum roll, base para toda a improvisação, urdindo, com o contrabaixo, apertado tricot, a que paulatinamente se juntam as notas longas do saxofone, que ganham tração com o passar dos minutos.

Em “Jabbing”, vinheta abstrata mas de algum modo estruturada, Faustino pega no arco e alarga-se na exploração do seu instrumento, com a bateria de Valinho sempre prenhe de detalhes e o saxofone lancinante a andar por perto. “A Leap into Space” é introduzido num registo de notável lirismo, tergiversando depois para outras paragens mais tumultuosas. Parte de um motivo lançado por Faustino, logo secundado pelos outros dois, com o saxofonista a desenhar linhas de que emergem fragmentos melódicos, com a bateria a acrescentar muitos pontos. A dado momento, o contrabaixista retoma o arco, em diálogo com os sons agudos do saxofone, que remetem para melodias de culturas longínquas. Nos derradeiros minutos intensificam-se processos e tudo finda em altos níveis energéticos.

“Garuda” é uma proposta deveras recompensadora – intensa e urgente – que se deixa descortinar em audições sucessivas.  António Branco 

__________________________________

 

Com edição do selo indiano Subcontinental RecordsGaruda é o álbum que documenta o primeiro encontro do saxofonista alto Hugo Gosta (Anticlan ou Albatre são duas das suas frentes de combate) com a secção rítmica de Hernâni Faustino (“hardest working man on double bass business” com entradas no currículo para No Nation Trio, Wire Quartet de Rodrigo Amado, RED trio ou, entre vários outros projectos, Nau Quartet de João Lencastre – e tendo em conta as certamente incompletas entradas listadas no Discogs, há 14 – !!!! –  álbuns de 2020 com o seu nome na ficha técnica) e João Valinho (outro incansável operário, com registos em 2021 assinados para editoras como a Multikulti Project, Phonogram Unit ou Creative Sources).

Garuda, ensina-nos a Wikipedia, é divindade multi-devocional, rei dos pássaros, com uma espécie de super-poder Marvel que lhe permite ir a qualquer lado enquanto o diabo – ou a serpente, sua inimiga – esfrega um olho. Um poder útil para qualquer músico – como acontece aqui com estes três – que se proponha tocar num contexto de livre improvisação. “A música”, explica a frase das parcas notas de lançamento que surge entre aspas, embora sem autor revelado, “oscila entre improvisação e free jazz dinâmico”. A explicação pode ser económica, mas a sua pontaria é total: realmente, em Garuda, o trio revela uma dinâmica generosa, uma capacidade recíproca de adaptação instantânea a qualquer ideia que possa surgir na colisão de partículas sonoras que cada um dispara para os respectivos microfones. São quatro as peças no alinhamento, todas com diferentes fôlegos – o tema título, o mais longo, aproxima-se bastante dos 20 minutos, enquanto “Jabbing”, a mais curta, se queda abaixo dos 3 minutos -, mas idêntica força, com cada um dos membros do trio a demonstrar estar investido sem reservas nesta aventura de partilha e submissão ao momento. Costa é expansivo nos seus riffs e fraseados, musculado quase sempre, mais poético e melódico quando calha; Valinho é uma torrente, capaz de explorar o kit em toda a sua extensão, em permanente movimento propulsivo, como que a empurrar os companheiros para o desconhecido, sem medos; e Faustino aquela inesgotável fonte de subtil classe, sempre encaixado no fluxo, mas sempre também capaz de surpreender, com apontamentos que demonstram que não é homem para se deixar aprisionar por fórmulas, como tão bem, aliás, demonstra no solo que assina em “Garuda”. E a partir daí a música jorra, inquisitiva e inquieta, com os músicos a apresentarem diferentes ideias em cada momento, com a soma das respectivas partes a revelar mais do que o que a simples matemática faria esperar. O que é natural, já que é de derrube de regras que se faz uma música de espontânea elegância, que apesar de totalmente improvisada nunca chega a resvalar para os abismos mais fundos da atonalidade (ainda que os “gritos” de Costa possam pontualmente roçar a estridência) conseguindo até, pelo contrário, soar por vezes tão coesa que se diria que o trio tem os olhos postos numa qualquer partitura com orientações bem precisas, como o arranque de “A leap into space” parece sugerir, antes de uma espiral se desenrolar num crescendo de expressividade que culmina numa explosão a três que é justo ponto final para tão intensa viagem. Deixando-nos, enfim, recuperar o fôlego. Rui Miguel Abreu 

___________________________________

 

 

Czas na drugie trio! Tym razem lizbońskie studio Scratch Built, także rok ubiegły: Hugo Costa – saksofon altowy, Hernâni Faustino – kontrabas oraz João Valinho – perkusja. Cztery improwizacje, łącznie około 46 minut.

Muzycy wchodzą w pierwszy strumień improwizacji bardzo dziarskim krokiem. Dynamiczny open jazz ze spokojnym altem, mocnym stepem kontrabasu, który zdaje się chwilami brzmieć niczym basówka, wreszcie z aktywnym, przebiegłym drummingiem. W tej trzyosobowej układance zdyscyplinowany, silny drive sekcji rytmu stwarza sporo przestrzeni dla saksofonu, który może swobodnie sterować swoją opowieścią, regulować tempo, czy poziom ekspresji. Opowieść trzyma się kanonów gatunku, kreuje zatem obszar dla improwizacji w podgrupach. Najpierw, po 7 minucie dostajemy bystry duet kontrabasu i perkusji (podobnie rzecz będzie się miała pod koniec utworu), potem tegoż kontrabasu z saksofonem. Po powrocie do pełnego składu artyści serwują nam kilka chwil uroczej gry na małe pola, zabawy w jazzowe pytania i odpowiedzi. Wszyscy dobrze dawkują emocje, budują napięcie, realizują wszelkie akcje na dużej swobodzie. Drugą opowieść otwiera nerwowa, znów podskórnie dynamiczna sekcja rytmu. Saksofon, po raz kolejny w roli cierpliwie wyczekującego na rozwój wypadków, chętnie sięga po indywidualną melodykę. Początkowo śpiewa przez łzy, potem wrzuca tryb bardziej zadziorny i ciągnie razem z kontrabasem rdzeń opowieści na drobne wzniesienie. Trzeba przyznać, iż artyści w zadanej konwencji równie dobrze radzą sobie na wdechu, jak i na efektownym wydechu. Dobrze panują nad każdym elementem swojego spektaklu. Ich groove’owa opowieść zdaje się momentami wpadać w trans godny freejazzowych mistrzów – Wiliama Parkera i Hamida Drake’a.

W trakcie trzeciej, bardzo krótkiej opowieści Faustino po raz pierwszy sięga po smyczek i obok rysowania podwalin narracji, efektownie preparuje. Dokładnie to samo czynią Costa i Valinho. Tkana z drobiazgów narracja niesie ze sobą efektowny bagaż emocji. Kontrabasista otwiera również finałową improwizację, ponownie jak pierwszą, rozbudowaną do kilkunastu minut. Początkowo muzycy pozostają w pobliżu ciszy, a zręby narracji właściwej pojawiają się dopiero po trzech minutach. Tu bas wskazuje powtórzeniami kierunek, ale motorem improwizacji jest ogniście nastrojony saksofon. Narracja gęstnieje, ale nie wzmacnia tempa. Instrumenty śpiewają, gadają, tańczą wokół własnej soi. Po 8 minucie w tę opowieść o dość umiarkowanej dynamice wplata się smyczek, który pojękuje i puszcza oko do pozostałych uczestników podróży. Reakcje perkusji i saksofonu wskazują na zbliżony poziom poczucia humoru. Rodzi się dronowa ekspozycja, którą zdobią perkusyjne ornamenty. Smyczek śpiewa razem z dęciakiem, a po powrocie do głównego nurtu narracja osiąga wysoki poziom ekspresji, godny finału bardzo dobrej płyty. Ostatnia prosta nie obywa się bez smyczkowych riffów, które dodatkowo podnoszą temperaturę zakończenia.  Andrzej Nowak 

 

_________________________________

Released in February 2022, but recorded at Scratch Built studio, Lisbon 2021, is a wonderful free jazz/ free improvising trio with phenomenal Hugo Costa and the dream section of Hernâni and João. They play four track, starting with the title one, “Garuda” lasting nearly 19 minutes. The sound and the music reminds me a little trio recordings of Mikoªaj Trzaska, and a little of various trios of Frode Gjesrstad. The following, 9 minutes long “Camel Caravan” is a slower ballad with Saharian accents. “Jabbing” is a short, but very expressive track, starting as a double bass-drums duo, but incorporating them dramatic lines of Hugo in the nal part. Finally, another highlight: a 15 and a half minute long “A leap into space”  another lyrical track, combining marvelously emotional depth with expression power. For me outstanding album!  Maciej Lewenstein