Reviews Manifesto

O saxofonista José Lencastre e o contrabaixista Hernâni Faustino, dupla que se conhece bem de outros contextos, juntaram-se à norte-americana Susan Alcorn, exímia improvisadora de guitarra pedal steel, instrumento de sonoridade especial. O resultado é o álbum “Manifesto”, onde coabitam passagens intensas, texturas abstratas e momentos de uma surpreendente leveza. Tem selo da Clean Feed e a jazz.pt já o escutou.

O termo “manifesto” é geralmente tomado como uma declaração pública em que se expõem os motivos que levaram à prática de certos atos que interessam a uma coletividade, ou, no campo das artes, uma obra programática de uma escola ou movimento artístico. À sua escala é exatamente isso que este álbum é: uma proposta de características muito particulares e que desbrava novos territórios, até pela inaudita configuração instrumental da formação. Susan Alcorn, nas guitarras pedal steel (sobretudo) e lap steel, e os portugueses – que se conhecem muito bem de várias aventuras musicais conjuntas – José Lencastre, nos saxofones alto e tenor, e Hernâni Faustino no contrabaixo e no baixo elétrico.

Susan Alcorn trouxe as guitarras pedal steel e lap steel para os universos da improvisação, significativamente distantes do papel tradicional limitado que lhes estava cometido no country e western (por onde iniciou a carreira, sublinhe-se). Alcorn tem vindo a expandir o vocabulário destes instrumentos de sonoridade peculiar, aportando elementos da música erudita do século XX, do jazz mais estimulante e também de músicas de vários latitudes. «Entendo o instrumento que toco não como um objeto a ser dominado, mas como um parceiro com o qual partilho com o ouvinte um significado e, espero, uma profunda consciência de cada momento frágil em que estamos juntos. É desta dinâmica que tento estar ciente tanto na minha escrita quanto nas minhas performances», explicou a própria em entrevista. Recentemente, escutámo-la no excelente “From Union Pool”, com o clarinetista Patrick Holmes e o baterista Ryan Sawyer.

José Lencastre é reconhecido como um músico versátil, capaz de se movimentar com igual mestria em diferentes tabuleiros sonoros. O seu saxofonismo incorpora e processa elementos derivados do free jazz e outros provenientes de uma improvisação livre de linguagens, em grupos como Nau Quartet, Anthropic Neglect, Spirit in Spirit (atenção ao recente “Cinematico”) , SPOS ou Common Ground. Em 2022, deu à luz o álbum a solo “Inner Voices” na editora Burning Ambulance. Músico autodidata, Hernâni Faustino integrou diversas bandas de rock na década de 1980; na década de 1990 começou a tocar contrabaixo e passou a dedicar-se apenas à música improvisada. Mapear o seu trabalho não é tarefa fácil, dada a quantidade de projetos em que toca. Foi um dos fundadores, em 2007, do RED Trio, com o pianista Rodrigo Pinheiro e o baterista Gabriel Ferrandini, mas também nos Clocks & Clouds, Lisbon Free Unit, o trio com Lotte Anker, o quinteto de Nobuyasu Furuya, o quarteto Refraction de Rodrigo Amado, o trio Volúpias de Gabriel Ferrandini, formações lideradas pelo guitarrista Luís Lopes ou o recente trio com o violoncelista Daniel Levin e o pianista Rodrigo Pinheiro (“Rhizome” demanda audição atenta), além do trabalho que desenvolve a solo.

Lencastre e Faustino têm amiúde partilhado palcos e estúdios, em vários contextos sónicos e integrando diferentes projetos. «Temos muitas horas tocadas em conjunto, e isso como que cria uma linguagem comum que desenvolvemos e conhecemos, mas que está em constante movimento de evolução e se expressa diversamente sempre que nos reencontramos para tocar», começa por dizer José Lencastre à jazz.pt. Cedo descobriram que tinham em comum, além do gosto pelo jazz e pela música improvisada, uma grande admiração pela obra de Susan Alcorn. Em agosto de 2022, Alcorn tocou em Lisboa, no Jazz em Agosto da Fundação Calouste Gulbenkian, integrando o grupo Seven Storey Mountain de Nate Wooley, e José Lencastre convidou-a para gravar em trio com saxofone e contrabaixo. «Ela foi muito simpática e recetiva a essa ideia, e então a partir daí falei com o Hernâni e começámos a pensar em conjunto qual a melhor forma de o fazermos. Ainda ponderámos incluir bateria mas acabámos por nos decidirmos por este formato em trio», revela Lencastre. «Tenho tocado e gravado bastante durante estes últimos anos com o José Lencastre em várias formações e contextos, mas acho que a música do “Manifesto” é especial. Talvez devido ao facto de ambos sermos grandes admiradores da música da Susan Alcorn e também devido ao tipo de instrumentação utilizada», sublinha Hernâni Faustino.

A sonoridade da guitarra pedal steel (e da lap steel numa peça) trouxe desafios especiais à concretização desta geometria sónica: se a ligação entre saxofone e contrabaixo é telepática, a guitarra veio trazer toda uma nova dimensão que o grupo estava ávido de explorar. «A Susan tem umas características muito peculiares na forma como toca e improvisa. A sua distinta interação connosco e a sonoridade do seu instrumento enriqueceu bastante a ligação entre o contrabaixo e o saxofone», reforça Faustino. O saxofonista acrescenta: «O facto também de não haver bateria ou percussão, fez com que essa nossa ligação musical acontecesse noutro patamar.» Registado numa manhã desse agosto nos estúdios Namouche por Joaquim Monte (o que quer dizer muito), “Manifesto” traz uma música – completamente improvisada e sem qualquer pré-preparação («pelo que me lembro, combinámos apenas previamente que o Hernâni levaria também o baixo elétrico», conta Lencastre) – que se ergue da fecunda interação entre os três músicos, cruzando uma narrativa melódica com passagens angulares e de maior abstração.

O que escutamos em “Manifesto”, editado pela Clean Feed, é rico e diverso em texturas, que tanto podem ser fulmíneas, mas também de uma surpreendente leveza. «Tudo fluiu de forma natural, parece-me. O nosso trabalho anterior em conjunto serviu de base, digamos assim, para desenvolvermos a música da forma que o fizemos com a Susan», explica Lencastre. Ideia que é corroborada pelo contrabaixista: «Foi uma sessão de gravação que correu bastante bem, o entendimento entre nós foi logo imediato e muito espontâneo, nunca foi preciso falar sobre o que iríamos tocar. Bastou apenas ter ouvidos atentos e tocar»; e completada pelo saxofonista: «Algo que me fascina, e sobre o qual já falei com o Hernâni, é tentar chegar a esses momentos de forma menos óbvia: por exemplo, não criar intensidade pelo facto de tocar mais alto ou começar a berrar para dentro do saxofone.» José Lencastre revela ainda um episódio que define bem o que aconteceu durante a sessão de gravação: «Lembro-me de a Susan mencionar que quando sentia que estava tudo muito “certinho”, ela gostava de ir contra isso criando alguma tensão.»

“The Poet” chega com a suavidade textural da guitarra pedal steel e as notas pendulares do baixo elétrico; o saxofonista não destoa e aporta serenidade; e os três constroem uma peça lenta e de ambiência misteriosa, que se vai densificando. As linhas desenhadas pelos três instrumentos tornam-se progressivamente mais grossas, com Lencastre a meandrizar sobre a base urdida pelos outros dois. “Two Distant Realities” é mais nervosa; Lencastre sopra flamejante com Alcorn e Faustino em ebulição; tudo se aquieta e os três começam uma digressão conjunta, próximos, rumo ao silêncio. Peça soberba, “Sombra” começa com notas encantatórias de pedal steel, que os outros dois músicos interpelam, vigilantes, como que atentos ao mais pequeno movimento numa paisagem desértica. O saxofone (aqui o tenor) desenha uma bela linha melódica. A peça parece querer adquirir tração, o que não acontece verdadeiramente, com os instrumentos a prosseguirem tranquilos os seus caminhos. “Interalia” é de uma beleza esdrúxula, com os três instrumentos a vaguearem como fantasmas. Na parte final tudo se fragmenta e se torna ainda mais espectral.

Outros dos momentos especiais do disco acontecem em “Saturnalia”, de início difuso, qual banda sonora de um filme sci-fi imaginário. O saxofone planante de Lencastre, a guitarra económica, o contrabaixista solidamente discreto. Este será provavelmente o melhor exemplo do quão e imagética a música do trio pode ser. Em pleno contraste com o título, “Manhã Louca” é momento maior de tranquilidade; os três músicos vão desenvolvendo paulatinamente as suas linhas, geralmente não muito distantes uns dos outros. Alcorn, aqui recorrendo à lap steel, faz o seu instrumento percorrer uma ampla gama de sons; Lencastre sopra o tenor com foco e assertividade e Faustino propõe uma pulsação primordial que tudo sustenta.

Susan Alcorm, José Lencastre e Hernâni Faustino fazem de “Manifesto” uma verdadeira declaração de princípios. Um belo álbum que reclama vagar para se desvendar e que lança pistas para futuras explorações. António Branco

 

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The very end of this release, recorded on August 4, 2022 in Lisbon, Portugal, keeps the listener wanting more, but luckily one can just re-press the play button and listen again, as this music’s slowly evolving and subtle aesthetics has one discovering new details with each satisfying listen. What makes this trio (Susan Alcorn on pedal & lap steel guitars, Jose Lencastre on alto & tenor saxophones, and Hernani Faustino on double & electric bass) work is the empathetic interaction and sensibilities of these kindred, well-matched musicians.

All six pieces stand as finely crafted real time compositions each with its own character, with evocative titles, “The Poet,” “Two Distant Realities,” “Sombra,” “Interalia,” “Saturnalia” and “Manha Louca.” The first piece, “The Poet,” is the longest of the six tracks at just over 10 minutes. The other five are all relatively short, but within each, something special and architecturally engaging happens. “The Poet” progresses like a symphonic piece by someone like Delius, very slow and drifting, with rich swelling chords from Susan Alcorn’s pedal steel guitar (she also plays lap steel on this session in the last track “Manha Louca”), Hernâni Faustino’s stalking electric bass line that enlarges into a didgeridoo-like drone, along with the squiggles and splotches of José Lencastre’s alto (he also plays tenor on half of the tracks here) and the whole builds to a terse poly-harmonic climax.

“Sombra” opens with a haunting melismatic sliding theme from the steel guitar that evokes the shadowy aspect of the title, but Alcorn also makes use of the brighter upper reaches of the instrument. A similar kind of sound launches “Interalia” but the piece morphs with a violin-like effect in the pedal steel lines. The range of articulations is a big part of Alcorn’s artistry, as she can create guitaristic timbral qualities of an astounding variety, which her cohorts are quick to respond to in this release. The shimmering pedal steel guitar in the hands of Alcorn is a wonderful instrument that elicits from her two partners playfully subtle and sensitive creative gestures making for an enjoyable, expressive, multicolored and soothingly meditative listen. Paul Serralheiro

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Today we roll into the modified Space Age and that robotic vision of Hal in 2001 is closer to our experience than certainly it was when the movie was made. And the music we hear now, is that any closer to the swirls of mad blips, bloops  and barongs that formed part of the score in 2001? Well sure and you might argue that most of 2001 was already present in some form in the culture for which it was made, maybe inevitably we are what we are when we make things. It just was not perhaps as central as the movie made it. So then Ligeti’s avant work “Atmospheres” graces the score and of course it was made for initial hearing in a neutral concert venue situation. Well now that we are well past the “New Millennium” these days has our music taken a decisive turn into an all prevailing Space Age? Maybe not entirely as yet.

On the other hand the Modern in Modernism can be said to be a constant in New Music Avant circles. There are of course purely Electronic essays in the Modern Music world, there too are Orchestral and Chamber Classical related musics that can be readily heard out there. On the other end of the spectrum too there is the world of Avant Post-Classic Jazz as we hear it.

A very good example of the latter today we can contemplate on aa a new release from the Cleanfeed Label, an intrepid concern with a substantial monthly release schedule of more advanced Improvisation being played today, with natives from Europe especially Portugal but the rest of Europe very much as well as the East and the US West, sometimes a conglomeration of all, or two of the three or so possibilities. On today’s release we have two regions well represented–for the USA steel pedal guitarist Susan Alcorn, a very-much-in-the-limelight artist these days, doing important work, and here also two fellow travelers from Europe involved in such heroic endeavors as well. So making the rest of the trio are Jose Lencastre on alto and tenor sax and Hernani Faustino on acoustic double bass.

Six probing and adventurous pieces make up the whole, all in a free improvisatory style so often a fixture of the Clean Feed way. Susan Alcorn has pioneered an avant style using the conventional steel pedal guitar and she is very much in her element here with the full spectrum of the instrument’s note possibilities to vitiate advanced figures that glide like conventional playing of the instrument but then stand out with a good deal of imaginative note spinning and some advanced technique propelling us along as well.

Alcorn is given two especially well healed avant artists with Jose Lencastre wielding an aggressive and exciting stridency making a statement about the ethnicity and forward loving nastiness and then the all-over intensity of the stellar sorts of jazz dates that define where it all is as a modernism should go. Hernani Faustino does all the right things to help enflame and engulf caustic kindling.

Grego Applegate Edwards 

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Pedal steel ace Susan Alcorn has single-handedly liberated her instrument from its traditional role in country music, recontextualising it as an exciting and versatile voice in free improvisation. Here she teams up with the experienced Portuguese pairing of Lencastre and Faustino on a largely aeriform session, with strings, brass and bass skulking stealthily like shadow pieces playing out a supernatural game of chess. But even at its most wraithlike, during the sumptuous crystalline glide of ‘Sombra’, or the Messiaen-style drone of ‘The Poet’ – the latter infiltrated by Lencastre’s mournful alto flutter – Alcorn ensures her music rises above the new-age ambient stasis which is the default mode of many contemporary pedal steel players. These initially pensive vistas detonate with frenzied bouts of hyperactive hopscotching and swooping slides, Faustino’s double-bass rumbling petulantly behind Alcorn’s skittish Morse code mischief on ‘Two Distant Realties’. Manifesto is testimony to the boundless creativity of an artist boldly stepping outside convention. Spencer Grady 

 

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There’s a darkness, an eeriness too, to the musical elaborations of lap-steel player Susan Alcorn‘s trio endeavor with saxophonist Jose Lencastre and bassist Hernâni Faustino as well. Opening cut “The Poet” sets the mood with obscurely ascending bass lines, obliquely swelling guitar strings and similarly unsettling saxophone melodies that collectively circle around an element of uncertainty. Alcorn induces more haunting atmospheres via effect pedals that split the overtones and add delay. It’s a fitting introduction to a program that orbits the unknown, with three highly curious musicians keenly aware of clichés and exceptionally nimble at evading them.
The pieces tend to start out softly, quietly stacking layers of atmosphere that subsequently erupt in fidgety interplay, each instrument reacting to sudden burst of loud impulse. “Saturnalia” is a prime example of this notion and also captures the trio’s return to silence, presenting György Ligeti-like investigations into colliding overtones and carefully improvised superimpositions of chromatic lines. A provocative, sometimes uncomfortable sounding music with many discoveries to be made.  Pat Youngspiel 

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Canto teams pedal steel guitarist Susan Alcorn with six Chilean musicians for a large-scale suite in praise of Nueva Canción, the musical and political movement that arose in the ’60s to promote equality and justice. In contrast, Manifesto is a stripped-down improvisational expedition in partnership with Portuguese instrumentalists José Lencastre (saxophone) and Hernâni Faustino (bass).Together, these albums demonstrate Alcorn’s versatility, technical expertise and dedication to both artistic and social liberation. The absence of drums and percussion on Manifesto fosters a distinctive conversational idiom. Lencastre and Faustino knew each other well before the session, but neither had met Alcorn before. However, all share a passion for unrestricted exploration. Angular passages, spontaneous creation and moments of abstraction push sonic and compositional boundaries. The bassist often plays a supportive role, elegantly buttressing Alcorn’s statements. Lencastre, reticent on lengthy opener “The Poet”, is anything but on “Two Distant Realities” in which he attempts to cajole and redirect the pedal steel guitarist’s contributions. On “Sombra”, Alcorn’s lap steel guitar engages with Lencastre with countrified, albeit silky licks. In this unhampered environment, subtlety and intuition take precedence over convention, resulting in compelling soundscapes. Canto presents Alcorn in relatively unfamiliar international company but in a more structured setting. The group was assembled expressly for this endeavor by jazz guitarist Luis “Toto” Alvarez with bassist Amanda Irarrazabal, to represent Chile’s folkloric and Nueva Canción tradition; the band also includes Claudio Araya (drums, cuatro, Francisco Araya (charango, quena), Rodrigo Bobadilla (flute, guitar) and Danka Villanueva (violin). Mercedes Sosa and Victor Jara, hailed as folk legends and powerful change agents, deeply influence the session’s style and approach. Alcorn seamlessly blends into the ensemble, where contemporary compositions rooted in folk protest traditions merge with modern improvisatory jazz elements. Villanueva’s mournful violin is at the heart of the hauntingly beautiful “Suite Para Todos” that precedes Canto’s three-part titular suite which includes “¿Dónde Están?” and “Presente” -slogans chanted in response to the disappearance of individuals due to their beliefs. Alcorn masterfully weaves this narrative, intertwining with the traditional instruments to gracefully bridge past and present. The suite concludes with an homage to the Chilean musician/activist Lukax Santana, symbolizing the struggles faced by the Chilean people during the dictatorial Pinochet regime (1973-1990). Following a sincere tribute to Sosa, Irarrazabal sings an anthemic rendition of Jara’s “El Derecho de Vivir en Paz”. On both releases, Alcorn crafts sophisticated stories that resonate across disparate contexts. Her long-term commitment to freeing the pedal steel guitar from stereotypical constraints expands to encompass a broader concept of freedom in general.  Elliott Simon, The New York City Jazz Record

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De to portugisiske musikerne, alt- og tenorsaksofonisten José Lencastre og bassisten Hernãni Faustino slår seg sammen med den amerikanske pedal steel- og lap steel-gitaristen Susan Alcorn i en ytterst original blanding av moderne jazz og americana.

Lencastre og Faustino deler ofte scene og studio med ulike grupper. De oppdaget snart at de hadde mye til felles, i tillegg til smaken for jazz og improvisert musikk. De var også store beundrere av Susan Alcorn. I august 2022 spilte Alcorn i Lisboa, og Lencastre inviterte henne til å spille inn dette prosjektet. Innspillingen fant sted i Namouche-studioet i Lisboa, og albumet bringer musikk av sjenerøs interaksjon, der melodier krysser kantete og abstrakte former, og bringer en solid fortelling som forener improvisasjoner av trioen.

Hernâni Faustino er en selvlært musiker, og var en del av flere rockeband på 80-tallet. På 90-tallet begynte han å spille kontrabass og dedikerte seg kun til improvisert musikk.

Han var en av grunnleggerne av RED-trioen, med pianisten Rodrigo Pinheiro og trommeslageren Gabriel Ferrandini. Han er for tiden medlem av Nau-kvartetten, et band ledet av saksofonisten José Lencastre, Refraction Quartet til saksofonisten Rodrigo Amado og trioen Volúpias av Gabriel Ferrandini. På konsert har han spilt med musikere som Mats Gustafsson, Nate Wooley, Alexander von Schlippenbach, Carlos Zíngaro, Susana Santos Silva, Rob Mazurek og Taylor Ho Bynum, for å nevne noen. José Lencastre er saksofonist, improvisator og komponist. Han er kjent som en allsidig musiker, som har dyrket ulike musikalske sjangre opp gjennom årene. Han har samarbeidet med musikere som Sei Miguel, Gonçalo Almeida, Albert Cirera, Rodrigo Amado, Peter Evans, Ziv Taubenfeld, Vasco Trilla og mange andre. I perioden han bodde i Brasil, mellom 2012 og 2016, fikk han muligheten til å utvikle sin interesse for den enorme og rike rytmiske, melodiske og harmoniske kulturen i forskjellige tradisjoner, som Choro, Frevo, Ciranda osv.

Susan Alcorn kommer fra Cleveland, Ohio, og begynte å spille gitar da hun var 12 år, og fordypet seg raskt i folkemusikk, blues og popmusikk på 60-tallet.

Et tilfeldig møte med Muddy Waters styrte henne mot å spille slidegitar.

Da hun var tjueen, hadde hun fordypet seg i pedal steel-gitaren, og spilt i country- og western-swingband i Texas. Snart begynte hun å kombinere teknikkene til country-western pedal steel med sine egne utvidede teknikker for å danne en personlig stil påvirket av frijazz, avantgarde, indiske ragaer, urfolkstradisjoner og forskjellige folkemusikk i verden.

Selv om Alcorn for det meste er soloartist, har hun samarbeidet med en rekke artister, så som Pauline Oliveros, Eugene Chadbourne, Peter Kowald, Chris Cutler, Ingrid Laubrock, Vinny Golia, Ken Vandermark, Michael Formanek, Ellery Eskelin, Fred Frith, Maggie Nicols, Evan Parker, Johanna Varner, Mary Halvorson og mange flere.

Manifesto, får vi servert seks komposisjoner de har gjort i fellesskap. Og det er en original sammensetning vi får servert. Og det er lett å høre at de to portugiserne har stor respekt for Alcorns spill, for det er hun som fører an i de fleste sporene. Lencastres saksofonspill føyer seg fint til Alcorns steel-gitarspill, og Faustino legger seg fint på både med akustisk- og elektrisk bass.

Selv om Alcorn trakterer steel-gitarer, blir det ikke mer americana enn det skal være. Og så lenge spillet til de to portugiserne holder seg på god avstand fra kysten av øst-statene, blir dette en original sammensmelting som møtes ett eller annet sted i Atlanterhavet.

For det er mye «bølger» i spillet. De går fra det lyriske til det heftige, og Lencastres saksofonspill, hvor vi hører han både på alt- og tenorsaksofon nærmest duellere med seg selv, passer forbløffende fint sammen med steel-gitarene. Og når Alcorn får styre, legger vi fort merke til hvor hun kommer fra, men hun trekker komposisjonene raskt bort fra hjemlandet og over havet til nye uoppdagede steder. Og de tre har tydeligvis funnet tonen denne tidlige augustdagen i 2022. For samspillet er hele veien fremragende, og de tre fungerer gjennomgående som en fullkommen enhet.

Sist gang jeg hørte Alcorn på konsert, var under Nattjazz i Bergen i 2022, hvor han spilte med trompeteren Nate Wooley, gitaristen Ava Mendoza og trommeslageren Ryan Sawyer, en konsert jeg ikke var helt fornøyd med. Men inviter henne gjerne tilbake, og gjerne sammen med de to portugiserne, for dette er tett og fin, spennende musikk man ikke hører hver dag. Jan Granlie

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The phenomenal Susan Alcorn is a rare, if not the onlymusician playing free improvised music with pedal steelguitar. I reported on two records of her in this book: the magnificent trio with Joe McPhee and Ken Vandermark, “Invitation to a Dream”, and a concert recording from the Catalytic Sound Festival 2020. Here, she joins the cream of the cream of the Portuguese scene: my beloved saxophone player, José Lencastre, and the Master of the DoubleBass, Hernâni Faustino, without ofending or forgetting about Gonçalo Almeida and other Portuguese bassplayers.

The trio plays an amazing music, mostly because of the combination of the instruments used. The sound of Susan’s guitar is very “spacial” , and cover the whole musical sound space. José adds to it lyrical, and evensomewhat melancholic phrases, and the bass is the Bass. This all is perfectly illustrated on the opening ten and half minute long “The Poet”. The second track, “Two Distance Realities”, is less than 4 minutes long, and is more energetic and expressive. “Sombra”, in contrast, returns to the”melancholic” and, in fact, a little minimalistic and repetitive mood. This is continued on “Interalia”. But,me, I dig the two closing tracks: “Saturnalia”, with phenomenal triologue between everybody, and the slow ballad “Manhã Louca” of extraterrestrial beauty. Very highly recommended!!! Anybody interested in contemporary improvisation and improvised guitar should purchase it! Maciej Lewenstein 

 

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Alcorn er født og oppvokst i Texas og har hatt countrymusikken med seg i oppveksten. Der hører jo instrumentene hennes også hjemme, men etter hvert så utvida Alcorn horisonten og blei til tiltrukket av både samtidsmusikk og ikke minst impro.  Der har jeg også møtt henne tidligere og blitt fascinert av hennes unike uttrykk. Det har åpenbart også bassisten, både akustisk og elektrisk, Hernâni Faustino og alt- og tenorsaksofonisten José Lencastre. Da Alcorn besøkte Portugal for vel et år siden, tok Lencastre kontakt og Alcorn var åpenbart ikke vanskelig å be. Faustino blei henta inn og i løpet av en studiedag var «Manifesto» i boks. De seks «låtene» er fritt improviserte og altså kollektivt unnfanga stemningsrapporter. De som mener at de har hørt konstellasjonen lap steel/pedal steel, saksofon og bass tidligere, må gjerne rekke opp hånda – mine hender blir i alle fall værende ved tastaturet. Det betyr igjen at dette låter ganske så annerledes enn det meste som har vederfaret eders sinn og med tre fine og særdeles lyttende instrumentalister, så har det ført til spennende og unike samtaler. Er du blant dem som har lyst til å utfordre deg sjøl og ditt sanseapparat, så er absolutt denne trioen og «Manifesto» et fint sted å begynne. Tor Hammero

 

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Dwójka wybitnych portugalskich improwizatorów w twórczym zwarciu z Susan Alcorn, amerykańską gitarzystką, która gra na osobliwym instrumencie – elektrycznej gitarze hawajskiej.
Muzyka zawarta na płycie jest improwizowana, to nieśpieszna podróż po obrzeżach sonorystyki, często skręcająca w stronę współczesnej kameralistyki. Improwizacji tworzona jest z dużą rozwagą i odpowiedzialnością za pojedynczy dźwięk… Pewność, z jaką budują kanciastą i abstrakcyjną narrację zachwyca, odbywa się to oczywiście na równoprawnej zasadzie. Kolejnym atutem nagrania jest zmienność akcji i moc intrygujących inspiracji ze strony każdego z muzyków. To wszystko ma niebagatelny wpływ na ogromny interaktywny potencjał zespołu, któremu ulegam z przyjemnością! Multikulti