Reviews “Lulu Auf Dem Berg”

The opening moments of “Stream of Consciousness”are disorienting. Awash in reverb, as in an empty warehouse or a bounded public square, Maria Radich’s vocals mingle with those of an audience of unknown size. Camera shutters click, men cough into their sleeves, children test their own small voices against Radich’s echoes. It’s unclear: has the performance begun? But soon other instruments can be heard, a few at a time, the texture thickening as the 26-strong band materializes.

Lulu auf dem Berg (“Lulu on the mountain”—a clever allusion to Alban Berg’s unfinished opera) is the third release from Ernesto Rodrigues’ Variable Geometry Orchestra. Membership is variable, too: the group can swell to as many as 40 musicians, and always features some familiar names from the Portugal scene. Here we find Miguel Mira, Hernâni Faustino, and Sei Miguel, among others.

Free improvisation is tricky with large groups. Perhaps ironically, adopting the minimalist, textural approach of electroacoustic improvisationis often a fruitful strategy. Rodrigues deftly moves his musicians through a droning series of dark, shifting shapes, the variable geometry of a flock of birds, turning on his whim. Over the course of the nearly 50 minute performance, there are a few moments of more “traditional” free improvisation, but the intense reverb in the playing space smears everything, effacing even the attack of each drum hit.

It may be due to my recent listening, but the murky start and brooding progression brings to mind the music of Jakob Ullman. Not so much his use of extreme quiet, but the idea of holding music at a distance to elicit a form of strained listening. Attention is sustained not by following a melodic trail or the clash of counterpoint, but instead by pushing to get closer to the details, immersed in the flux of a slow-moving, all-pervasive mass of sound. Rodrigues has used the word “subliminal” in the past when talking about this music. Indeed, a session with Lulu auf dem Berg feels like something that was slowly absorbed rather than actively engaged. Moody, suspenseful—even cinematic—music. Highly recommended. Dan Sorrells 

http://www.freejazzblog.org/2015/10/variable-geometry-orchestra-lulu-auf.html

______________________________

Uma das mais importantes notícias da improvisação nacional no ano ainda em curso foi o regresso da Variable Geometry Orchestra de Ernesto Rodrigues, e logo para um concerto (a 3 de Maio) num local único, o Panteão Nacional, com a sua característica ressonância. Este disco documenta essa actuação de um ensemble que, como o nome indica, tem formação diversa, dependendo esta das circunstâncias e das ocasiões. O certo é que há alguns anos que o projecto estava interrompido, sobretudo pela dificuldade de acertar agendas tão preenchidas como as dos músicos desta área tão dinâmica. A também conhecida como VGO, que já chegou a incluir 40 elementos, surge agora com 26.

Entre eles estão músicos de outros países residentes em Portugal, como Albert Cirera e Yaw Tembe, e também alguns instrumentistas de visita a Portugal, designadamente Gerhard Uebelle e André Hencleeday, mas o grosso continua a ser constituído pela prata da casa. De salientar a contribuição de alguns dos mais notáveis nomes da cena portuguesa, como Sei Miguel, Paulo Curado, Miguel Mira (Rodrigo Amado Motion Trio) e Hernâni Faustino (RED trio).

Aquilo que define a música enquanto organização intencional de sons é o ponto de partida do registo: a longa improvisação nasce dos sons acidentais da presença humana no espaço (vozes, movimentos, cliques de máquinas fotográficas, etc.), primeiro confundindo-se com o ruído ambiente e depois eclipsando-o, ou melhor, mudando a sua natureza.

Essa particularidade transmite-nos de imediato a impressão de que não há propriamente um início (e um fim, já que o termo do disco é simplesmente um desvanecimento) neste “Stream of Consciousness” e de que pouco, na verdade, distancia a música propriamente dita do entorno sonoro – o arrastar de uma cadeira, os passos no chão de pedra, as conversas em sussurro não são propositados, mas também eles têm uma lógica intrínseca. Essa ligação é feita nos primeiros minutos pela dança audível da vocalista Maria Radich, que de resto irrompe várias vezes do magma acústico com excelente oportunidade.

Uma (a música) e o outro (o ruído) são tratados por igual pelo espaço arquitectónico, e quando o que se toca é tocado na perspectiva dos sons que ficam suspensos no ar, determinando todos e quaisquer desenvolvimentos, é o espaço, mediador da emissão sonora, que se torna determinante. Tanto assim que surge como consequência e, em simultâneo, princípio. O que aqui temos é música espacial, uma constante titilação da arquitectura e dos materiais utilizados na construção da bela Igreja de Santa Engrácia.

Não surpreende, pois, que opte amiúdes vezes por “drones” ou bordões, forma eficaz de criar massa, e de se contradizer os ditos com intervenções pontilhísticas ou em staccato, nelas se reconhecendo imediatamente o trompete de Sei Miguel, o saxofone tenor de Albert Cirera e a viola de Ernesto Rodrigues.

Não sei se a descrita indefinição entre o que é musical e o que não é, ou relativa ao momento em que o som começa a ser e deixa de ser música, foi o que levou a titular este CD com uma referência à ópera inacabada de Alban Berg, “Lulu”. Se foi, até que faz sentido, pois uma peça musical que não começa e não termina é, como aquela, uma não-obra ou pelo menos algo que está, esteve, em vias de o ser. O que abre uma questão interessante – será que podemos aplicar o conceito de “obra” à música improvisada, que só parece tal quando fica gravada em disco? A própria designação da peça com o procedimento usado, o de “stream of consciousness”, surge como um não-título. Inclusive, dificilmente a poderemos referir como “peça” ou como “tema”, termos demasiado circunscritos para explicar o que encontramos aqui. E o que encontramos aqui é uma música que vem da vida quotidiana e que a ela é devolvida.

Aliás, é isso que a torna tão natural, tão impregnada de existencialismo e de autenticidade. A VGO está, decididamente, de volta, e com argumentos reforçados…

Rui Eduardo Paes, Jazz.pt

 

________________________________

 

Composé d’un personnel imposant avec une grande variété instrumentale et sous-titré stream conscienciousness, le Variable Geometry Orchestra est un point de rencontre d’improvisateurs portugais sous la conduite du violoniste alto Ernesto Rodrigues. Cet enregistrement de mai 2015 offre des occurrences sonores entre l’aléatoire et l’intentionnel qui mettent en valeur la combinatoire des sons obtenus par les participants et leurs silences. Il y a une grande part d’invention personnelle chez les vingt-six participants, tous totalement impliqués dans cette superbe mise en commun des sons et de l’écoute. Voici la liste des musiciens : Ernesto Rodrigues viola, conduction, Gerhard Uebelle violin, Guilherme Rodrigues cello, Miguel Mira cello, João Madeira double bass, Hernâni Faustino double bass , Adriana Sá zither, Paulo Curado flute, Mariana Chagas flute, Bruno Parrinha alto clarinet, Paulo Galão clarinet, bass clarinet, Nuno Torres alto saxophone, Albert Cirera tenor & soprano saxophone, Sei Miguel pocket trumpet, Yaw Tembe trumpet, Fala Mariam alto trombone, Eduardo Chagas trombone, Maria Radich voice, dance, Armando Pereira accordion, António Chaparreiro electric guitar, Abdul Moimême electric guitar, Carlos Santos synthesizer, André Hencleeday electronic percussion, João Silva harmonium, electronics, Nuno Morão drums, Carlos Godinho percussion. Soit la nébuleuse Ernesto Rodrigues. Des drones mouvants, irisés et dont la texture et les composants se transforment insensiblement et souvent rapidement. Un changement de perspective intervient avec des interjections toutes dans le même moule quelque soient l’instrument, donnant à penser qu’Ernesto parvient à bien se faire comprendre. Les instruments électroniques / électriques colorent l’ensemble en se distinguant à peine. Un silence intervient suivi de crépitements d’orage qui se prépare, une note tenue comme une sirène bloquée entourée de bruitages aqueux puis de murmures d’outre-tombe relance une stase évasive qui tournoie lentement. La conduite d’ER est subtile. Un superbe mouvement orchestral se dessine dans l’espace, chaque instrument de souffle s’emboîtant l’un dans l’autre alors que les percussions grondent sourdement. Des bribes de sax free s’échappent suivies par des interventions de cuivres, la musique s’anime : un solo de trompette free accompagné de clusters se détache et une zone introspective quasi électro-acoustique où la trompette joue quelques notes appuyées dans l’effet de résonance du lieu (Panthéon National !?), se tait puis revient au premier plan. On pense à Bill Dixon, mais c’est sans doute involontaire de la part du musicien. Un fond sonore permanent composé de sons électroniques et d’un agrégat impénétrable d’instruments acoustiques permettent à différents instruments d’émerger dans une sorte d’avant-plan sans crier gare et d’apporter des détails presqu’infimes à l’ensemble. Quand la majorité se rejoignent finalement dans un vrai silence, il reste un son aigu continu de corde frottée, lequel attire imperceptiblement vers lui d’autres instruments créant un continuum en mutation constante qui plonge lentement dans le silence. Soit presque cinquante minutes consistantes qui s’imposent à l’écoute. Vraiment remarquable. Jean-Michel van Schouwburg (Orynx)